terça-feira, 17 de maio de 2011

JORNALISTA PÕE INOCÊNCIO A NU


É revelador! O candidato do PAICV acha normal que numa democracia o filho de um ministro – neste caso o seu – entre para uma empresa pública que o pai tutela. Mas há mais: Inocêncio foi “aos arames” quando o jornalista lhe perguntou se também era normal a sua antiga sócia ter ganho vários concursos públicos em obras que o seu próprio ministério promovia…

Paris, 17 de Maio 2011 – No mínimo, o que se poderá dizer é que Manuel Inocêncio Sousa, ex-ministro e, agora, candidato presidencial, faz uma bizarra interpretação do que seja uma democracia. Numa entrevista ao jornalista João Matos, da Rádio França Internacional, Inocêncio ficou visivelmente incomodado com as perguntas. Coisa, aliás, a que não está habituado… Grosso modo, em Cabo Verde, os jornalistas são gente pacata, ordeira e reverente ao poder, nunca por nunca colocariam o ex-ministro a sujeitar-se ao incómodo de perguntas desagradáveis.
Para o candidato tambarina é tudo normal: o filho entrar numa empresa pública por ele tutelada, a sócia ganhar concursos atrás de concursos numa área também por ele tutelada… Enfim, segundo esta bizarra figura, trata-se de “baixa política” encontrar nesta “normalidade” um leve sinal de nepotismo…
Com a devida vénia, a João Matos e à Rádio França Internacional, Liberal reproduz na íntegra a entrevista que, pela sua relevância, figurará nos arquivos da memória desta “democracia basofa”, povoada por figuras, figurinhas e figurões - de que o Inocêncio é um exemplar de bom porte:
ENTREVISTA CONDUZIDA POR JOÃO MATOS
JOÃO MATOS - Estamos aqui com o engenheiro Manuel Inocêncio, ex ministro de Estado, agora candidato às próximas eleições presidenciais em Cabo Verde. O que é que o motivou a ser candidato às presidenciais?
MANUEL INOCÊNCIO SOUSA - A minha motivação é no fundo continuar a ser útil a Cabo Verde. Continuar um percurso que eu comecei desde a minha juventude e que intensifiquei, sobretudo nos últimos 20 anos, enquanto deputado e governante para a consecução dos objectivos dos cabo-verdianos que é o desenvolvimento.
JOÃO MATOS - Para já parte para esta corrida presidencial com uma certa fragilidade já que o seu partido está dividido, tem duas candidaturas.
MANUEL INOCÊNCIO SOUSA - Existem duas candidaturas mas a minha candidatura é a candidatura que tem o apoio do PAICV. Há uma segunda candidatura de uma personalidade que vem da área do PAICV. O partido não está dividido.
JOÃO MATOS - Não, o partido está sim dividido porque o Dr. Aristides Lima foi Secretário-geral do partido. Não me vai dizer que alguém que foi Secretário-geral desse partido não tenha com ele também pessoal desse mesmo partido?
MANUEL INOCÊNCIO SOUSA - Naturalmente que tem algumas personalidades à volta dele, mas não chegamos ao ponto de falar de divisão do PAICV. O PAICV, no essencial, mantém a sua unidade. O Dr. Aristides Lima decidiu avançar com a sua candidatura fora, mesmo tendo passado por um processo de procura do apoio do PAICV. Não o tendo conseguido decidiu continuar. Esta já não é uma questão que eu deva tratar. Eu, neste momento, estou na promoção da minha candidatura, e na apresentação das minhas ideias chave relativamente ao que pretendo fazer no exercício da presidência da república.
JOÃO MATOS - Está a ser optimista, mas vamos ter também na corrida um outro antigo ministro do PAICV, o Dr. Hopffer Almada.
MANUEL INOCÊNCIO SOUSA - Não ouvi, até hoje, nenhum posicionamento do Dr. David Hopffer Almada relativamente ao avanço da sua candidatura. Não sei.
JOÃO MATOS - De todos os candidatos já declarados, são três, nas sondagens o senhor não consegue estar à frente dessas sondagens?
MANUEL INOCÊNCIO SOUSA - Eu já vi resultados de duas sondagens que foram divulgados: as sondagens que foram publicadas antes do Conselho Nacional davam um posicionamento relativo de cerca de 32 por cento ao Dr. Aristides Lima e cerca de 14 por cento para mim nessa altura. A sondagem divulgada duas semanas depois da decisão do Conselho Nacional de apoio à minha candidatura, dava ao Dr. Aristides Lima cerca de 22 por cento das intenções de voto e a mim cerca de 18 por cento. Isso significa que a partir do momento em que os partidos definissem claramente as suas posições sobre as candidaturas haveria uma dinâmica que eu esperava que é o que aconteceu. Em princípio vamos ter uma dinâmica ascendente relativamente às intenções de voto na minha pessoa e descendente relativamente às intenções de voto nas outras candidaturas, nomeadamente na candidatura do Dr Aristides Lima.
JOÃO MATOS - Sim, mas parte para essas eleições, de facto, com algumas limitações. Já na semana passada foi muito criticado pelos jovens universitários em Portugal, nomeadamente que o senhor quando era ministro de Estado privilegiou o seu filho na obtenção de um emprego. Isto é nepotismo?
MANUEL INOCÊNCIO SOUSA - Não é nepotismo, nunca houve nepotismo e não sou nepotista. Esses jovens recuperaram acusações de baixa política sem fundamento.
JOÃO MATOS - Não, mas é um facto. O seu filho é director financeiro da ENAPOR?
MANUEL INOCÊNCIO SOUSA - Deixe-me terminar. Acusações de baixa política feitas pelo MpD ao longo do tempo. O meu filho é um cidadão, é um jovem, formou-se, concorreu para a ENAPOR, entrou através de um concurso como qualquer outros jovens que entraram no seu tempo. Portanto não tem nenhum significado político.
JOÃO MATOS - Tem sim, porque o seu filho entrou para uma empresa pública da qual o senhor era ministro tutela?
MANUEL INOCÊNCIO SOUSA - Entrou pela via normal, legal de entrada que é um concurso. Portanto, eu não tenho nada a ver com isso. Você acha que por ele ser meu filho ele não teria direito a concorrer?
JOÃO MATOS - Exactamente. Numa democracia, num Estado de Direito não é possível.
MANUEL INOCÊNCIO SOUSA - Não, não, não. É possível sim. Não tinha nenhum poder de decisão. Era uma empresa que estava no sector que eu geria. Se fosse eu a decidir sobre concurso, sim.
JOÃO MATOS - Mas era o ministro que tutelava!...
MANUEL INOCÊNCIO SOUSA - Eu nem decido sobre a nomeação dos administradores da empresa quanto mais sobre um funcionário.
JOÃO MATOS - Quando o senhor era ministro de Estado das Infra-estruturas era normal também que o senhor tivesse uma empresa que ganhasse sempre os concursos? Era normal?
MANUEL INOCÊNCIO SOUSA - Eu não tenho nenhuma empresa que ganha sempre os concursos. Antes de ir para o Governo, eu já expliquei isso no Parlamento, tinha um gabinete de engenharia, eu e uma colega. Fui para o Governo, a minha colega continuou com o gabinete de engenharia e continua a concorrer como qualquer outro gabinete de engenharia. Isto é também normal. Meu amigo, essas são questiúnculas que se tentam levantar para manchar a imagem de gente que é gente séria porque eu nunca fiz nada que fosse fora da legalidade.

2 comentários:

  1. O Inocêncio só fala de um Candidato do outro ele esquece ou não sabe que tem uma candidatura. Frontal o Jornalista, exagerado no aperto. Num Estado de Direito é normal o filho de um Ministro entre numa empresa sob sua tutela, mormente em Cabo Verde. Não há nada de ilegal, tendo havido um concurso. A questão que se coloca é Ética e Moral. A pergunta será se o Filho do Ministro foi favorecido por ser seu filho...

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  2. Claro Gilson foi mesma, coisa é alto nivel de corrupção que existe em Cabo Verde e vamos passar mais de cinco anos para sabermos grandes verdades sobre esses corruptos armados e pai Natal que se escondem no nosso país.

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